É importante lembrar que não só o faz-de-conta, mas toda brincadeira, embora seja atividade livre e espontânea da criança, não é natural: ninguém nasce sabendo brincar, aprende-se a partir do contato com a cultura. Por isso é tão importante considerar a brincadeira como algo que merece atenção, planejamento e acompanhamento por parte do/a professor/a. Vale a pena saber mais sobre como introduzir, selecionar e organizar materiais e como intervir.
1. Como introduzir a brincadeira
Para introduzir o faz de conta, o/a professor/a precisa levantar os temas de interesse das crianças. Ao observar com cuidado o jogo de faz-de-conta, veremos que a criança está sempre organizando sua própria brincadeira. Isto não é à toa. Em geral, ela organiza sua brincadeira o mais parecido possível com o ambiente que se origina, o que lhe serve de modelo de referência. Por exemplo, quando monta um consultório de médico, o faz parecido àquele que conhece na vida real, muitas vezes o do posto de saúde, por exemplo. A forma de organizar sempre se remete à cultura de origem da criança, aquela que está empenhada em conhecer melhor. Por meio da brincadeira, ela procura entender como se dão as relações no mundo em que vive tanto na esfera da vida pública quanto privada, criando mundos e fazendo de conta que eles existem.
Considerar essas observações ajuda na criação dos cantos de faz-de-conta.
2. Como selecionar materiais
Os materiais na brincadeira sejam eles brinquedos ou objetos, exercem um papel importante para o desenrolar das interações e trama lúdica, por isso é interessante que o/a professor/a possa ajudar a conseguir materiais, sejam sucatas ou brinquedos que enriqueçam o jogo da criança. E também ajude a organizar materiais que possam contribuir para o enriquecimento do desenvolvimento de papéis no jogo.
Sendo assim, sugerimos a montagem de kits de jogo simbólico. Ao invés do tradicional monte de brinquedos misturados e entulhados, sugerimos separar caixas por temas de interesse (fazendinha, médico, oficina, casinha, etc) a fim de que seja mais fácil montar os cantos de jogo que se escolhe diariamente para brincar. Quanto mais diverso for o material, também mais possibilidade oferece para o desenrolar da brincadeira e o aprofundamento dos papéis e interações entre os participantes, e, por conseguinte gera maior interesse e tempo de concentração das crianças nesta atividade.
3. Como organizar materiais
Vimos, então, que a seleção de materiais é a primeira ação do/a professor/a para viabilizar os cantos. Outra importante tarefa é a organização dos mesmos, a forma como serão dispostos objetos e brinquedos para que a brincadeira aconteça da forma mais rica possível.
É preciso preparar a sala para receber as crianças, colocando à disposição delas cantos capazes de sugerir uma determinada brincadeira. Ao fazer isso, o/a educador/a organiza também configurações culturais e não apenas físicas, para que a criança possa se aprofundar nos papéis que escolhe. Assim sendo, é importante construir ambientes ricos em significados e representações culturais.
Casinha/Cabana, Escritório, Cabeleireiro, Feira/Supermercado, Médico, Farmácia, Sorveteria / Doceria, Desfile/Fantasia, Oficinas de Consertos em geral, Restaurante/Disk Pizza, Carrinho, Mecânico, Boneca, Animais (fundo mar, selva, dinossauros), Fantoche/teatro, Marcenaria (ferramentas de plástico), Príncipes e Princesas, Astronauta, Super Heróis, etc.
Contudo, o espaço da brincadeira não deve estar definitivamente pronto para que a criança possa interferir nele. Ao propor um jogo de papéis, mesmo aqueles de situações mais conhecidas como mercado, escritório, casinha, hospital etc., deve-se considerar e acolher as mudanças que as crianças venham a realizar. É importante não deixar nenhum espaço fixo ou que dificulte a transformação.
4. Outras formas de agir do/a professor/a
É fundamental proporcionar às crianças, sempre, novos desafios. Às vezes pequenas interferências no jogo, na disposição do material e em sua organização, permitem uma nova forma de olhar para a mesma brincadeira. Assim, a tradicional brincadeira de casinha, por exemplo, ganha nova dimensão à medida que é enriquecida com novos elementos trazidos pelas crianças.
Outra ação é a observação cuidadosa do/a professor/a, um olhar interessado em saber o que as crianças gostam de brincar para ajudar a construir as novas possibilidades de jogo simbólico que vão aparecendo em um grupo. Assim, por exemplo, ao observar que as crianças brincam de carreta, transportando a geladeira e o fogãozinho da casinha em um caminhão improvisado em um banco, o/a professor/a pode incrementar este jogo, oferecer novos materiais ou mesmo perguntar o que poderia contribuir para este jogo. Numa destas conversas, é possível descobrir novas possibilidades para o jogo: barbantes para enrolar mercadorias, plástico bolha para protegê-las, caixas de diferentes tamanhos para separar e organizar os objetos da mudança e assim por diante. Quando as crianças percebem que o/a professor/a é um aliado que pode contribuir, também se sentem mais à vontade para criar e sugerir novas possibilidades de brincadeira.
Caberá ao adulto, apenas, segundo Gilles Brougére, “construir um ambiente que estimule a brincadeira em função dos resultados desejados. Não se tem certeza de que a criança vá agir, com esse material, como desejaríamos, mas aumentamos, assim, as chances de que ela o faça; num universo sem certezas, só podemos trabalhar com probabilidades. Portanto, é importante analisar seus objetivos e tentar, por isso, propor materiais que otimizem as chances de preencher tais objetivos”.
5. Quando é o melhor momento para intervir
A intervenção, nunca é feita enquanto as crianças brincam, mas sim em momentos anteriores ou posteriores ao faz-de-conta que é, por definição, livre.
O adulto pode alimentar essa brincadeira na medida em que cuida da:
- organização de um ambiente seguro e acolhedor que sirva de referência para a criança;
- disposição dos móveis, facilitando interações entre as crianças e criando um ambiente convidativo para a brincadeira;
- disponibilidade de material adequado, interessante e em quantidade suficiente, aproveitando, por exemplo, objetos convencionais como telefone, teclado de computador e outros que assumem função importante na cena lúdica;
- diversificação dos papéis tradicionais do faz-de-conta, inserindo novos elementos na trama simbólica.
Comprometido dessa forma com os reais interesses e necessidades das crianças diante da brincadeira, o adulto estará, na verdade, ajudando-as a inventar um mundo possível nos quais as crianças possam viver, aprender e relacionar-se com seus parceiros.
6. Como avaliar a qualidade da brincadeira
O faz-de-conta ou o jogo de papéis pode revelar-se altamente significativo para a criança ou muito empobrecido. Para avaliar a qualidade da brincadeira, é preciso observar atentamente alguns critérios, segundo os quais a criança possa:
- sair do espaço cotidiano para projetar-se em outro espaço, envolvendo-se na situação imaginária criada, seja ela derivada do campo real ou ficcional (ser capaz de realizar uma metacomunicação);
- ampliar a possibilidade de compreensão dos diferentes papéis que desempenha;
- ter no brinquedo um suporte de representações, onde encontre um universo de sentidos e não somente de ações;
- ser capaz de simbolizar: criar diferentes significados para um mesmo objeto ou situação;
- lidar com conhecimentos e manifestar competências que vão além de seu nível de desenvolvimento real;
- elaborar conhecimentos advindos do exercício ativo de papéis sociais;
- construir regras com outros jogadores para organizar as brincadeiras;
- divertir-se em suas interações lúdicas e nos enredos que criam para suas brincadeiras;
- aprender a incluir nas brincadeiras materiais elaborados por ela mesma, reaproveitando materiais do meio: criando cenários e buscando acessórios para incrementar suas brincadeiras, etc.;
Experimentar novas possibilidades de ação, diversificando a escolha de papéis.
7. Sugestões de materiais
Estas são apenas sugestões de como montar jogos simbólicos com recursos que podem ser adquiridos por meio de doações. É interessante que o/a professor/a faça juntamente com as crianças uma lista do que julgam interessante para os cantos de jogo simbólico. Feita a lista, podem escrever uma carta aos pais e comunidade (médicos, cabeleireiros, feirantes...) pedindo ajuda para montagem dos kits, com materiais doados para incrementar o jogo. Para organizar a chegada dos materiais vale separar caixas de papelão ou caixotes de madeira para guardá–los de forma a facilitar a montagem dos cantos.
Podemos ainda, organizá–los pelas categorias: sorveteria, supermercado, médico, kits de animais , oficinas de consertos de brinquedos, computadores, mecânica.
Aproveite algumas dicas, a seguir.
- Casinha
Fogão e panelinhas, livro de receita, frutas de brinquedos, embalagens vazias (leite, danone, sabão em pó, caixa de ovo), bonecas e mamadeiras, caminhas, roupinhas de bonecas, panos, panelas velhas (pequenas), bule e xícaras, copos e pratos de plástico, liquidificador, escorredor de macarrão e de arroz, ferro de passar roupa, colheres e outros utensílios de pau ou alumínio, chuveiro velho, telefone, agenda e bloco de recados, lista telefônica, caneta, etc.
- Escritório
Máquina de escrever, teclado, monitor e mouse, lista telefônica, telefone, bloco para anotações, agendas (novas e usadas), caneta/porta canetas, máquinas de calcular, calendário, carimbos, furador de papel, maleta tipo pasta executivo, gravatas, manuais, tabelas de preço de produtos.
- Oficina de Consertos
Máquinas sem uso (computador, relógio, telefone, video cassete, máquina fotográfica, impressora), ferramentas de plástico, ferramentas de verdade que não ofereçam perigo como chave defenda, pano e pincel para limpeza.
- Médico
Embalagens de remédios vazias e bem lavadas, de mercúrio cromo e esparadrapo vazias, de chá (camomila, erva doce ,boldo...), pano para compressa, caixas de remédios com bulas, avental branco, sapato branco (usado), máscaras, toucas e luvas cirúrgicas, estetoscópio velho, bolsa d’água, máscara de inalação, ataduras, blocos de papel c/ propaganda médica, maleta de primeiros socorros, chapas de raio x, tecidos ou lençóis brancos, colchões empilhados para servir de maca.
Obs.: É importante incluir blocos e notas para marcar consultas.
- Salão de beleza
Maquiagens, embalagens vazias de shampo e condicionador, pentes, escovas, bobes, grampos, presilhas, rabicós, tiaras, touca de banho, espelho, toalhas, avental, perucas, secador de cabelo (que não esteja mais funcionando ou de brinquedo), embalagens de creme de barbear e pincel de barba, resto de prestobarba (sem gilete), mangueira, chuveirinho, borrifador, vidro de esmalte vazio, revistas com modelos de cortes, lista de serviços e preços, telefone e agenda, caderno de anotações e canetas.
- Feira
Caixotes de leite, carrinho de feira, sacolas, bacias, balança (pode ser feita com sucata), calculadora, pincel atômico ou canetinha para marcar preços, jornais, avental, lenço, boné, flores e folhas secas, frutas e legumes de plástico ou papel machê, roupas, objetos, brinquedos, dinheiro de faz de conta, carteiras, barbante e pregadores para prender preços dos produtos.
Obs: as mercadorias listadas poderão ser aproveitadas de sucatas, embalagens, de brinquedos, ou então confeccionadas com papel machê.
Uma boa opção de montagem de barraca é virar uma mesa, colocá-la sobre uma outra, utilizar os pés para esticar um barbante, e prender os preços dos produtos que ficam logo abaixo, em bacias.
Fonte: http://cibersludicos.blogspot.com.br/2008/07/cantos-de-atividades-diversificadas.html
Sou estudante de pedagogia e assistente em sala de aula. Estou montando os kits para jogos simbólicos e gostei muito do seu blog.
ResponderExcluirSou estudante de pedagogia e assistente em sala de aula. Estou montando os kits para jogos simbólicos e gostei muito do seu blog.
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